Quando fomos convidados pela Folha da Paraíba para escrever uma coluna veio logo o pensamento: “Quem é a gente pra falar pra outros públicos, em um portal sério, igualzinho a gente importante?”, e depois de muito pensar eu queria encontrar alguma fórmula ou método que fosse capaz de medir quem somos nós, e por qual motivo a gente merecia um espaço, e eu acho que encontrei.
Imagine que você decide fazer um bolo pra jantar. Você muito provavelmente iria ao mercadinho comprar uma farinha de trigo, um fermento, meia bandeja de ovos, uma manteiga da pequena… E por aí vai, dependendo do sabor do bolo. Você pega uma bacia grande, mistura os ingredientes, bate tudo com a batedeira, unta a forma, coloca no forno e espera durante alguns minutos. Na hora de tirar, você puxa a forma e percebe que acidentalmente fez um maravilhoso sorvete napolitano. Agora basta tirar do forno, colocar três bolas do sorvete no copo, servir com calda, e sentir a testa congelando.
Não faz sentido nenhum, não é mesmo? Não tem como misturar ingredientes de um bolo, colocar a massa no forno em alta temperatura durante o tempo de assar, e seguir os procedimentos da confecção de um bolo, para no final sair um sorvete. Da mesma forma, não teria outro resultado se você misturasse todas as condições de vida que um jovem tem pra viver no Brasil, com a dura realidade de se viver na Paraíba, com toda essa tecnologia na mão e a vontade de fazer alguma coisa, e esperar que se criassem cordeirinhos apáticos assistindo a tudo enquanto nascem e morrem.
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Quer a receita do Parahyba Threads? Anote os ingredientes: Invada uma província em uma colônia portuguesa, coloque um camarada seu pra tomar conta com mãos de ferro, coloque os nativos para brigarem entre si, depois arranje um acordo de paz. Dê terras para algumas famílias plantarem cana e produzir açúcar com mão de obra escrava. Quando não tiver mais dando certo, plante algodão. Aproveite a desigualdade econômica que isso vai gerar e controle o poder político da sua região. Sufoque as revoltas populares, não permita o surgimento de alternativas ao seu projeto de poder, coloque seus familiares e descendentes pra te substituir. Quando a independência vier, apoie o império. Quando o império cair, apoie a república. Quando a república estiver ruindo, apoie um golpe ou um fascismo ‘de leve’, só por um tempo, para “botar ordem nas coisas”. Mude o nome da cidade, a bandeira do estado, o nome dos bairros e o nome das ruas homenageando homens autoritários e pouco representativos, para que essa população esqueça quem ela é e não se orgulhe de si mesma. Dificulte o máximo que você puder das manifestações culturais pra que essas pessoas se preocupem em não morrer de fome ao invés de abrir a boca, e quando algum deles quiser se levantar politicamente e ameaçar a nossa estrutura, minta descaradamente para que essa pessoa seja desacreditada pelos seus. Faça de tudo pra causar uma divisão, e torne inviável a reação, garantindo que eles apenas tenham tempo de ir para o trabalho, gerar riqueza para o patrão, botar a cara no celular até dormir e começar tudo de novo.
O tempo de preparo pode durar uns 100, 300, ou 522 anos… Mas um dia, eu tenho certeza que o resultado dessa receita não será um sorvete napolitano.
O que faz do Parahyba Threads, o Parahyba Threads?
Pergunte a quem nossa inocente presença incomoda e conhecerá a receita.