Nossa cidade já teve alguns nomes: Nossa Senhora das Neves, Filipéia de Nossa Senhora das Neves, Frederykstadt (ou “Frederica”, para os íntimos). Quando os holandeses foram expulsos, levaram o nome “Frederica” junto, e a cidade foi batizada de Parahyba, nome que permanecia na boca dos nativos mesmo durante a dominação holandesa. De origem indígena e que remete ao rio que serviu de caminho para a fundação da cidade, tal nome perdurou até 1930, ano em que o ex-presidente do estado morre e a cidade mudou novamente de nome, passando a se chamar João Pessoa.
Entretanto, esse nome não representa a Parahyba. Por quê? Para não me estender tanto, irei resumir: João Pessoa foi presidente do nosso estado, e em 1930 concorria à vice-presidência na chapa de Getúlio Vargas. Nesse ano, ele foi morto em plena campanha por seu rival João Dantas, em Recife. A morte teve uma comoção geral, que culminou na revolução de 1930 e, logo, na mudança do nome da cidade, que passou a homenageá-lo. Se você quiser entender mais, no nosso perfil no twitter (@parahybathreads) você encontrará uma thread que explica detalhadamente esse acontecimento.
Mas o que permanece é a indagação: quais obras grandiosas dele e porquê ele merecia tanto ser homenageado pela 3° cidade mais antiga do Brasil? João Pessoa não era um herói nacional, mas o luto, o sentimento de perda, e a sede de Vargas em vencer, criou uma imagem de que ele era. É uma homenagem vazia, e que apaga nossa história. Os apoiadores criaram no imaginário popular um “João Pessoa” que até hoje não conhecemos, criaram a grandeza do nome, e por isso, perdemos o apego pela história da cidade, história que aparenta ser banhada a sangue e a luto.
Voltemos ao espírito festivo, hoje é dia 05 de agosto de 2021, e comemoramos o aniversário da cidade. Por comemorar eu quero dizer, ficamos em casa no feriado (afinal, pandemia né?), repostamos alguma coisa no instagram sobre os 436 anos, falamos por cima o quanto gostamos da cidade, e é isto. Parece que falta alguma coisa, não acham? Eu sinto que falta. Falta bairrismo, falta saber sobre o dia, sobre a nossa história, nossa cultura, nossos verdadeiros heróis e heroínas. Falta identificação.
João Pessoa é a 3° capital mais antiga do país, e mesmo assim, parece uma cidade projetada, fundada há 25 anos atrás. Junto com a troca de nome, foi retirado a história dos indígenas, dos negros, dos ribeirinhos, isto é, de quem construiu a cidade. Falta raízes.
Antes de escrever, perguntei a alguns familiares, de forma bem informal, se eles sabiam o porquê do nome da cidade ser João Pessoa, perguntei a nove pessoas, todos paraibanos, cinco pessoenses, e apenas três responderam que sabiam, e que era uma homenagem ao governador que morreu. Mas que homem era esse? não sabiam.
A história pouco conhecida pela maioria da população é apenas banhada de sangue e luto de quem não nos representa. A história da Paraíba, da capital, não ganha a atenção que merece nas salas de aula do nosso estado. Vale ressaltar que a história que não é contada, que não é transmitida, é esquecida. E a quem interessa esse esquecimento?
Quando se quer matar uma árvore, você retira a raiz. Por mais que você a derrube e só deixe um toco, ela vai continuar brotando do toco, fragilizada, devagar, mas vai brotando aos poucos. Se você quiser matá-la por completo, terá que cortar os brotos. Ao cortar os brotos, você nega às raízes, a energia que precisam para continuar a crescer. Porém, mesmo fazendo isso, poderá correr o risco de que em alguns anos, surja outro broto e a árvore voltará a vida. Se quiser ter certeza que sua árvore não vai nascer novamente, faça o seguinte: Remova meticulosamente as raízes do solo, sem as raízes a planta não terá como se fincar, não terá como surgir novos brotos, ou seja, ela morrerá.
E é justamente isso que acontece em nossa história: tentam cortar nossas raízes, queimar nossa história, pois com o passar do tempo, sem as raízes, sem a memória coletiva, podem até surgir brotos, mas eles não conhecerão sua verdadeira história, serão ensinados apenas o que convém aos poderosos.
Até mesmo os mais velhos, nascidos e criados na Paraíba, formados pelo coletivo e memória popular, em sua maioria, não têm recordação do porquê o nome da cidade é esse. A memória coletiva dos pessoenses, não lembra do significado do nome da cidade, isso porque é uma história que nos distancia do ser paraibano.
Além disso, o saudosismo e a emoção afloradas em 1930, não se aplicam mais aqui. A história tomou outro rumo, e espelha em nós, paraibanos sem rumos, órfãos de história, de cultura, de identidade, desprezando o que é preto e indígena de nossas raízes. Tornando-nos assim alvos fáceis de manipulação, sem perspectiva, sem consciência de lutar por espaços em nosso território.
Por outro lado, te transmito uma notícia boa: Não cortaram nossas raízes! Tentaram calar alguns brotos que surgiram como o Movimento Paraíba Capital Parahyba (MPCP), mas os brotos se tornaram árvores, que resultaram em outros brotos, e esses brotos somos nós, o movimento é aqui e agora! Vamos juntas, juntos e juntes fazer acontecer!
João Pessoa não conhece a Parahyba, João Pessoa não merece a Parahyba.