Quarta, 12 de Fevereiro de 2025
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Por que João Pessoa não nos representa?

A cidade de João Pessoa completa 436 anos hoje, e sabe por quê João Pessoa não conhece a Parahyba? Vem entender!

05/08/2021 às 16h06 Atualizada em 05/08/2021 às 16h51
Por: ESTADÃO DA PARAÍBA
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Por que João Pessoa não nos representa?

Nossa cidade já teve alguns nomes: Nossa Senhora das Neves, Filipéia de Nossa Senhora das Neves, Frederykstadt (ou “Frederica”, para os íntimos). Quando os holandeses foram expulsos, levaram o nome “Frederica” junto, e a cidade foi batizada de Parahyba, nome que permanecia na boca dos nativos mesmo durante a dominação holandesa. De origem indígena e que remete ao rio que serviu de caminho para a fundação da cidade, tal nome perdurou até 1930, ano em que o ex-presidente do estado morre e a cidade mudou novamente de nome, passando a se chamar João Pessoa. 

 

Entretanto, esse nome não representa a Parahyba. Por quê? Para não me estender tanto, irei resumir: João Pessoa foi presidente do nosso estado, e em 1930 concorria à vice-presidência na chapa de Getúlio Vargas. Nesse ano, ele foi morto em plena campanha por seu rival João Dantas, em Recife. A morte teve uma comoção geral, que culminou na revolução de 1930 e, logo, na mudança do nome da cidade, que passou a homenageá-lo. Se você quiser entender mais, no nosso perfil no twitter (@parahybathreads) você encontrará uma thread que explica detalhadamente esse acontecimento.

 

Mas o que permanece é a indagação: quais obras grandiosas dele e porquê ele merecia tanto ser homenageado pela 3° cidade mais antiga do Brasil? João Pessoa não era um herói nacional, mas o luto, o sentimento de perda, e a sede de Vargas em vencer, criou uma imagem de que ele era. É uma homenagem vazia, e que apaga nossa história. Os apoiadores criaram no imaginário popular um “João Pessoa” que até hoje não conhecemos, criaram a grandeza do nome, e por isso, perdemos o apego pela história da cidade, história que aparenta ser banhada a sangue e a luto. 

 

Voltemos ao espírito festivo, hoje é dia 05 de agosto de 2021, e comemoramos o aniversário da cidade. Por comemorar eu quero dizer, ficamos em casa no feriado (afinal, pandemia né?), repostamos alguma coisa no instagram sobre os 436 anos, falamos por cima o quanto gostamos da cidade, e é isto. Parece que falta alguma coisa, não acham? Eu sinto que falta. Falta bairrismo, falta saber sobre o dia, sobre a nossa história, nossa cultura, nossos verdadeiros heróis e  heroínas. Falta identificação. 

 

João Pessoa é a 3° capital mais antiga do país, e mesmo assim, parece uma cidade projetada, fundada há 25 anos atrás. Junto com a troca de nome, foi retirado a história dos indígenas, dos negros, dos ribeirinhos, isto é, de quem construiu a cidade. Falta raízes. 

 

Antes de escrever, perguntei a alguns familiares, de forma bem informal, se eles sabiam o porquê do nome da cidade ser João Pessoa, perguntei a nove pessoas, todos paraibanos, cinco pessoenses, e apenas três responderam que sabiam, e que era uma homenagem ao governador que morreu. Mas que homem era esse? não sabiam. 

 

A história pouco conhecida pela maioria da população é apenas banhada de sangue e luto de quem não nos representa. A história da Paraíba, da capital, não ganha a atenção que merece nas salas de aula do nosso estado. Vale ressaltar que a história que não é contada, que não é transmitida, é esquecida.  E a quem interessa esse esquecimento?

 

Quando se quer matar uma árvore, você retira a raiz. Por mais que você a derrube e só deixe um toco, ela vai continuar brotando do toco, fragilizada, devagar, mas vai brotando aos poucos. Se você quiser matá-la por completo, terá que cortar os brotos.  Ao cortar os brotos, você nega às raízes, a energia que precisam para continuar a crescer. Porém, mesmo fazendo isso, poderá correr o risco de que em alguns anos, surja outro broto e a árvore voltará a vida. Se quiser ter certeza que sua árvore não vai nascer novamente, faça o seguinte: Remova meticulosamente as raízes do solo, sem as raízes a planta não terá como se fincar, não terá como surgir novos brotos, ou seja, ela morrerá. 

 

E é justamente isso que acontece em nossa história: tentam cortar nossas raízes, queimar nossa história, pois com o passar do tempo, sem as raízes, sem a memória coletiva, podem até surgir brotos, mas eles não conhecerão sua verdadeira história, serão ensinados apenas o que convém aos poderosos. 

 

Até mesmo os mais velhos, nascidos e criados na Paraíba, formados pelo coletivo e memória popular, em sua maioria, não têm recordação do porquê o nome da cidade é esse. A memória coletiva dos pessoenses, não lembra do significado do nome da cidade, isso porque é uma história que nos distancia do ser paraibano.

 

Além disso, o saudosismo e a emoção afloradas em 1930, não se aplicam mais aqui. A história tomou outro rumo, e espelha em nós, paraibanos sem rumos, órfãos de história, de cultura, de identidade, desprezando o que é preto e indígena de nossas raízes. Tornando-nos assim alvos fáceis de manipulação, sem perspectiva, sem consciência de lutar por espaços em nosso território. 

 

Por outro lado, te transmito uma notícia boa: Não cortaram nossas raízes! Tentaram calar alguns brotos que surgiram como o Movimento Paraíba Capital Parahyba (MPCP), mas os brotos se tornaram árvores, que resultaram em outros brotos, e esses brotos somos nós, o  movimento é aqui e agora! Vamos juntas, juntos e juntes fazer acontecer!

 

João Pessoa não conhece a Parahyba, João Pessoa não merece a Parahyba. 



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Sobre O Parahyba Threads, é uma página no twitter empenhada em produzir e divulgar “fios” sobre história, cultura, política e sociedade regional, de forma didática. Threads, é fio em inglês, cordel em paraibanês. É o fio que deixa tudo amarradinho: vocês encangados no assunto, a gente encangado em vocês, e todo mundo entrelaçado feito tecelagem. Uma página antenada com as novas gerações, sacudindo um estado, e sendo FULEIRA: Fortalecendo, Unindo, Lutando, Engajando, Informando, Resistindo e Amando.
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